Senhores e Senhoras, dando prosseguimento a mais uma postagem, da série onde descrevo como foram minhas experiências e primeiras impressões sobre o ambiente carcerário em uma penitenciária do interior de Minas Gerais.
As outras postagens podem ser encontradas nos respectivos links: Parte 1, Parte 2, Parte 3 e Parte 4.
As Muralhas
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Para começar, hoje vou falar de um dos setores mais entediantes e também um dos mais cobiçados pelos agentes que querem "morgar" o dia todo. Estou falando das "muralhas" e "guaritas". Existe em algumas penitenciárias, um grupo especial só para este posto.
"Curtindo a paisagem" Fonte aqui |
Os muros que cercam as penitenciárias, são largos o bastante para que se caminhe sobre eles de forma cômoda e tranquila, com espaço o suficiente para atravessar mais de uma pessoa por vez nos corredores das muralhas. Além dos muros cercam as penitenciárias, é possível também andar sobre os muros que separam os pavilhões e celas, para que se possa ficar de olho nos presos, além de ser um suporte aéreo para as rotinas de abre e fecha cela que acontece o dia todo.
Os agentes que ficam neste posto, são uns dos poucos que possuem aval para usar arma longa no sistema carcerário.
O que posso dizer é que se trata de uma função, muito, mas muito entediante!
Você fica o dia todo sentado em um banquinho velho, e de vez em quando sai para dar uma volta pelos muros, "apreciando a paisagem". Em cima dos muros, quando se passa pelas celas e pavilhões, você sente um cheiro forte, de suor, maconha, mijo e merda. Imagine todos esses odores misturados ao mesmo tempo!
É claro, há pavilhões mais limpos e outros não, como eu relatei nas postagens anteriores. Mais uma vez, o pavilhão dos presos sem condenação, é o pior para vigiar, pois o cheiro é forte e tem muito barulho. Em todos os pavilhões, basta você apontar o nariz em cima das muralhas que já se ouve logo os gritos
- "Agente em cima da muralha... Caminhando para guarita 1 .... Agente olhando o pátio ... Agente caminhando pro fundo... Agente de olho... etc"
Os presos sempre gritam avisando os demais, sempre que um agente pisa o pés nas muralhas, gaiolas e corredores, avisando onde os ASPs estão, quantos são e o que carregam. Este é um hábito comum entre eles, que serve para evitar que sejam pegos em flagrante, usando celular, usando drogas, fazendo sexos, batendo em outros presos, cavando buracos, destruindo as paredes para pegar sua ferragem, negociando drogas e remédios, etc.
Uma coisa que acontece sempre, é você ter de dar alarme sobre arremessos que acontecem da rua para dentro das penitenciárias, e acredite, acontecem o tempo todo. O pessoal passa de moto, de bicicleta, a pé, com pombos e até drones, arremessando celulares, drogas, armas e afins para dentro dos presídios.
Enfim, é um trabalho bem tranquilo e entediante, você fica o dia todo sozinho, sem cia de ninguém, sentado nas guaritas, andando, avisando pelo rádios sobre as chuvas (arremesso de objetos) que aconteceram no dia. O lado ruim além da solidão e do tédio, é que seu rosto é bem conhecido entre os bandidos, já que eles ficam lhe vendo, lhe encarando sempre que você passa pelos muros dos pavilhões.
É claro, algumas vezes você tem de ter muita cabeça fria para evitar apertar o gatilho e fazer besteira com sua vida, pois ficar vendo meninos, meninas, mães, pais e bandidos ficarem arremessando porcarias por cima das muralhas, ficar ouvindo conversinha de preso, além do fato de uma eventual emergência, é você que tem a aram em mãos e os outros agentes estão de mãos limpas. Por isso, sempre deixar a arma travada, ou com as munições no bolso, para seu próprio bem.
E aí, queria fazer parte deste esquadrão especial?
Logo, logo sai a parte 6. Vou escrever posts menores pois assim é mais fácil de escrever e postar no trabalho.
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