A vida corre mais rápida do que conseguimos acompanhar! rsrsrsrs
Bom, dando continuidade a série de postagens 60 horas em uma penitenciária, onde relato as primeiras experiências de se colocar o pé nestes estabelecimentos, para trabalho. Já se foram cinco postagens e esta é a sexta. Será que é a última?
As outras postagens anteriores podem ser encontradas nos respectivos links: Parte 1, Parte 2, Parte 3, Parte 4 e Parte 5.
Após comentar sobre o primeiro contato (Parte 1), onde descrevo a expectativa vs realidade ao adentrar em uma penitenciária. Depois "passar" por um motim e conhecer a escola (Parte 2), conhecer a enfermaria e um pouco do cartório que operam neste estabelecimento (Parte 3). Conhecer o pavilhão mais problemático da penitenciária, onde ficam os presos sem condenação (Parte 4). Ficar o dia todo "cangando" morcego, merecidamente, que fique claro isso, nas muralhas (Parte 5) é hora de passarmos por mais um setor na penitenciária.
Já estávamos chegando ao fim do curso de formação e havíamos passado por quase todos os setores desta casa de internação de malfeitores, entretanto, ainda restavam algumas áreas a serem desbravadas e uma delas, felizmente/infelizmente nos era proibida a entrada, com direito a severa repreensão caso essa ordem fosse descumprida. Estou falando dele, do:
Pavilhão Feminino
Fonte: |
Eu não fazia a menor ideia de como era uma prisão, uma penitenciária e menos ainda de como era um pavilhão, imagina um pavilhão feminino. Mas, como relatei no início, não tive a oportunidade de conhecer o mesmo, é restrito a homens de baixo escalão, apenas agentes femininas e diretores da unidades têm permissão para entrar neste pavilhão.
Porém, na prática, existe uma hora que é "permitida" a entrada dos Agentes Masculinos no pavilhão feminino. Adivinhem só em qual situação isso é possível? .... .... Quando o pavilhão está quebrando e as presas estão enlouquecidas, as agentes femininas saem de cena (dão o fora literalmente) e sobra pros ASPs armados com seus cassetetes conterem os ânimos da mulherada. É claro, depois você tem de passar no cartório e responder o motivo do uso da força desmedida contra mulheres repreendidas e explicar como você, um homem, estava no pavilhão feminino.
Nem todas as penitenciárias são desorganizadas como a que eu estava, há sim tropas especiais de agentes femininas para contenção de motim nas unidades mais organizadas e maiores.
Meu primeiro contato com as presidiárias, foi já nos primeiros dias de curso, quando bem cedo, saia uma fila de mulheres maquiadas e de salto da penitenciária. Ser mulher já chama atenção, agora imagina ver uma mulher num local onde se tem uns 1500 presos mais uns 500 agentes, passando toda produzida pelos marmanjos.
Eu que tinha o folclore de como as mulheres dos presos são, ficava a imaginar o que essas meninas tinham na cabeça de ir passar a noite lá, de se envolver com esse tipo de gente. Mas então a ficha caiu, elas eram presidiárias em regime semi-aberto, que iam apenas dormir na penitenciária.
Alí naquela situação, elas chamavam muita atenção, mas se você as visse em outro ambiente, seria como cruzar com alguma mulher na rua. Algumas vocês achariam bonitas e teriam vontade de receber atenção dela, fantasiando parar a mesma e pegar seu telefone para ter um encontro romântico no outro dia. Outras passariam despercebidas por você e outras você desviaria para não passar muito perto delas.
Um outro momento que as vi também, foi quando elas estavam sendo encaminhadas para a oficina de costura que a unidade possui. Saiam em fila (6 a 8 garotas/mulheres) e subiam para o segundo andar do administrativo, onde fica a oficina. O que tenho de dizer de diferente aqui é que elas não usavam algemas e caminhavam "livremente" pela penitenciária, diferentemente de um preso masculino, que anda algemado para trás, tendo sempre um agente o acompanhando. E aí de algum agente masculino tentar espiar elas na oficina de costura, elas logo abrem queixa para as agentes femininas.
Um ponto que chama atenção também, é que a fila de mulheres não são compostas majoritariamente de mulheres feias e de idade avançada, e sim por mulheres mais novas (abaixo dos 30 anos).
Se preparando para o dia de visitas. Fonte da imagem |
Porém isso não significa nada, pois normalmente preso que trabalha e estuda nas penitenciárias não são presos de carreira, pelo menos tendem a não ser. Estão ali por terem cometidos aqueles cinco minutos de bobeira na vida.
Outro ponto relevante é quanto a higiene do pavilhão, como eu havia dito nas postagens anteriores, os pavilhões que contém os bandidos mais perigosos são mais limpos, pois eles colocam os presos subalternos para fazer a limpeza das celas e corredores mas nem de longe é feita uma faxina como a que você ou sua mãe e esposa fazem em casa. Já no pavilhão feminino a higiene do recinto é bem melhor, as mulheres lavam tudo, desde paredes, corredores, portas e celas. Claro que não são todas dispostas a fazerem tal sacrifício, mas em comparação as celas masculinas a diferença é gritante.
Conversando com algumas agentes femininas, elas me informaram alguns hábitos das presas tais como: Andar nuas ou só de calcinhas pelos corredores e celas, muita, mas muita putaria entre as presas, acontecendo sexo quase 24 horas por dia e de maneira "consentida" diferente da ala masculina que na maioria das vezes não é consentida e não acontece em qualquer cela, só nas que são permitidas.
Há também um orelhão no pavilhão das presas, onde elas podem realizar e receber ligações! Sim isso mesmo que estão lendo. O orelhão não fica especificamente dentro do pavilhão, mas sim na porta e todas elas (que não estão de castigo) podem realizar e receber uma ligação por semana.
Outro detalhe que me contaram também é que no pavilhão feminino não há superlotação pois a lei dos direitos humanos, de se ter uma pena digna, é mais forte a favor das mulheres. Se uma presa chega na penitenciária e não há mais vagas nas celas, em vez de jogar ela e amontoar um monte delas em uma cela, a penitenciária pede transferência dela ou de outra detenta, ou pede liberação dela ou doutra detenta para cumprir pena domiciliar, sem que ela precise procurar um advogado para lutar por esse direito.
Uma das regalias que me chamou muita atenção também, é que as detentas têm direto a um kit de maquiagem, pois elas não podem receber visitas de cara "limpa", isso denegriria a situação delas como mulher, perante a sociedade.
Concurso Miss Prisional Fonte aqui |
Há também o concurso miss prisional, onde se elege a mulher mais bonita da prisão o concurso acontece em etapas sendo a final realizada em Belo Horizonte, não tenho muito a comentar sobre este evento pois não participei do mesmo, mas se procurarem na internete vão encontrar matéria sobre este evento, como nesta da uol:
https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2016/06/11/presidiarias-brilham-no-concurso-de-miss-prisional-em-belo-horizonte.htm
É tudo bancado por você, cidadão honesto e trabalhador que não pode sair a noite de casa.
E adianto, não é barato, pois a festa os eventos são grandes, duram dias, roupas, maquiagens, maquiadores, cabeleireiros, som, luzes, juízes, transporte, segurança, estadias, etc. Tudo bancado pela sistema penitenciário
Apresentação musical. Fonte da imagem |
O pavilhão Feminino, possui mais dinâmica e atividades sociais, como teatros, palestras, apresentações artísticas de alunos universitários, visitas de ONGs e instituições religiosas, grupos sociais, cursos profissionalizantes, essas coisas.
Enfim, não tenho muito a acrescentar sobre a população carcerária feminina, uma porque não tive contato com elas, outra porque na unidade em que estava não é uma penitenciária feminina e tem apenas um pavilhão improvisado para guardar as infratoras maiores de idade.
Ah sim, outra coisa. As presas grávidas ou que amamentam, são transferidas para o regime domiciliar ou são transferidas para uma penitenciária feminina que possui médicos especializados para acompanhá-las, como médico Obstetra, Pediatra, Ginecologista, e outros profissionais da saúde da mulher. Possuem fraldários e infraestrutura específica para abrigar crianças que ainda dependem da mãe para sobreviver.
Já ia me esquecendo de outro detalhe também, que estava revoltando muita gente nesta penitenciária. É que as presas têm permissão de trabalhar e fazer o serviço administrativo da cadeia. Isso estava gerando muita, como vou descrever, revolta nos agentes. Pois assim, as detentas estavam coletando informações pessoais dos agentes penitenciários e repassando informações a seus maridos e homens do tráfico a qual elas tinham contato.
Espero ter contribuído de alguma forma para matar um pouco a curiosidade sobre as presidiárias, mas sinto que ficou faltando muita coisa. Se tiverem alguma curiosidade mais, me perguntem que vejo se consigo responder.
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