20 de jun. de 2017

60 Horas em uma penitenciária. Parte 6.

Boas novas!

A vida corre mais rápida do que conseguimos acompanhar!  rsrsrsrs
Bom, dando continuidade a série de postagens 60 horas em uma penitenciária, onde relato as primeiras experiências de se colocar o pé nestes estabelecimentos, para trabalho. Já se foram cinco postagens e esta é a sexta. Será que é a última?

As outras postagens anteriores podem ser encontradas nos respectivos links: Parte 1, Parte 2, Parte 3, Parte 4 e Parte 5.

Após comentar sobre o primeiro contato (Parte 1), onde descrevo a expectativa vs realidade ao adentrar em uma penitenciária. Depois "passar" por um motim e conhecer a escola (Parte 2), conhecer a enfermaria e um pouco do cartório que operam neste estabelecimento (Parte 3). Conhecer o pavilhão mais problemático da penitenciária, onde ficam os presos sem condenação (Parte 4). Ficar o dia todo "cangando" morcego, merecidamente, que fique claro isso, nas muralhas (Parte 5) é hora de passarmos por mais um setor na penitenciária.

Já estávamos chegando ao fim do curso de formação e havíamos passado por quase todos os setores desta casa de internação de malfeitores, entretanto, ainda restavam algumas áreas a serem desbravadas e uma delas, felizmente/infelizmente nos era proibida a entrada, com direito a severa repreensão caso essa ordem fosse descumprida. Estou falando dele, do:

Pavilhão Feminino


Fonte:
 
Eu não fazia a menor ideia de como era uma prisão, uma penitenciária e menos ainda de como era um pavilhão, imagina um pavilhão feminino. Mas, como relatei no início, não tive a oportunidade de conhecer o mesmo, é restrito a homens de baixo escalão, apenas agentes femininas e diretores da unidades têm permissão para entrar neste pavilhão.

Porém, na prática, existe uma hora que é "permitida" a entrada dos Agentes Masculinos no pavilhão feminino. Adivinhem só em qual situação isso é possível? .... .... Quando o pavilhão está quebrando e as presas estão enlouquecidas, as agentes femininas saem de cena (dão o fora literalmente) e sobra pros ASPs armados com seus cassetetes conterem os ânimos da mulherada. É claro, depois você tem de passar no cartório e responder o motivo do uso da força desmedida contra mulheres repreendidas e explicar como você, um homem, estava no pavilhão feminino.

Nem todas as penitenciárias são desorganizadas como a que eu estava, há sim tropas especiais de agentes femininas para contenção de motim nas unidades mais organizadas e maiores.

Meu primeiro contato com as presidiárias, foi já nos primeiros dias de curso, quando bem cedo, saia uma fila de mulheres maquiadas e de salto da penitenciária. Ser mulher já chama atenção, agora imagina ver uma mulher num local onde se tem uns 1500 presos mais uns 500 agentes, passando toda produzida pelos marmanjos.

Eu que tinha o folclore de como as mulheres dos presos são, ficava a imaginar o que essas meninas tinham na cabeça de ir passar a noite lá, de se envolver com esse tipo de gente. Mas então a ficha caiu, elas eram presidiárias em regime semi-aberto, que iam apenas dormir na penitenciária.

Alí naquela situação, elas chamavam muita atenção, mas se você as visse em outro ambiente, seria como cruzar com alguma mulher na rua. Algumas vocês achariam bonitas e teriam vontade de receber atenção dela, fantasiando parar a mesma e pegar seu telefone para ter um encontro romântico no outro dia. Outras passariam despercebidas por você e outras você desviaria para não passar muito perto delas.

Um outro momento que as vi também, foi quando elas estavam sendo encaminhadas para a oficina de costura que a unidade possui. Saiam em fila (6 a 8 garotas/mulheres) e subiam para o segundo andar do administrativo, onde fica a oficina. O que tenho de dizer de diferente aqui é que elas não usavam algemas e caminhavam "livremente" pela penitenciária, diferentemente de um preso masculino, que anda algemado para trás, tendo sempre um agente o acompanhando. E aí de algum agente masculino tentar espiar elas na oficina de costura, elas logo abrem queixa para as agentes femininas.

Um ponto que chama atenção também, é que a fila de mulheres não são compostas majoritariamente de mulheres feias e de idade avançada, e sim por mulheres mais novas (abaixo dos 30 anos). 

Se preparando para o dia de visitas. Fonte da imagem
Porém isso não significa nada, pois normalmente preso que trabalha e estuda nas penitenciárias não são presos de carreira, pelo menos tendem a não ser. Estão ali por terem cometidos aqueles cinco minutos de bobeira na vida. 

Outro ponto relevante é quanto a higiene do pavilhão, como eu havia dito nas postagens anteriores, os pavilhões que contém os bandidos mais perigosos são mais limpos, pois eles colocam os presos subalternos para fazer a limpeza das celas e corredores mas nem de longe é feita uma faxina como a que você ou sua mãe e esposa fazem em casa. Já no pavilhão feminino a higiene do recinto é bem melhor, as mulheres lavam tudo, desde paredes, corredores, portas e celas. Claro que não são todas dispostas a fazerem tal sacrifício, mas em comparação as celas masculinas a diferença é gritante.

Conversando com algumas agentes femininas, elas me informaram alguns hábitos das presas tais como: Andar nuas ou só de calcinhas pelos corredores e celas, muita, mas muita putaria entre as presas, acontecendo sexo quase 24 horas por dia e de maneira "consentida" diferente da ala masculina que na maioria das vezes não é consentida e não acontece em qualquer cela, só nas que são permitidas.

Há também um orelhão no pavilhão das presas, onde elas podem realizar e receber ligações! Sim isso mesmo que estão lendo. O orelhão não fica especificamente dentro do pavilhão, mas sim na porta e todas elas (que não estão de castigo) podem realizar e receber uma ligação por semana. 

Outro detalhe que me contaram também é que no pavilhão feminino não há superlotação pois a lei dos direitos humanos, de se ter uma pena digna, é mais forte a favor das mulheres. Se uma presa chega na penitenciária e não há mais vagas nas celas, em vez de jogar ela e amontoar um monte delas em uma cela, a penitenciária pede transferência dela ou de outra detenta, ou pede liberação dela ou doutra detenta para cumprir pena domiciliar, sem que ela precise procurar um advogado para lutar por esse direito.

Uma das regalias que me chamou muita atenção também, é que as detentas têm direto a um kit de maquiagem, pois elas não podem receber visitas de cara "limpa", isso denegriria a situação delas como mulher, perante a sociedade.

Concurso Miss Prisional Fonte aqui

Há também o concurso miss prisional, onde se elege a mulher mais bonita da prisão o concurso acontece em etapas sendo a final realizada em Belo Horizonte, não tenho muito a comentar sobre este evento pois não participei do mesmo, mas se procurarem na internete vão encontrar matéria sobre este evento, como nesta da uol: 

https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2016/06/11/presidiarias-brilham-no-concurso-de-miss-prisional-em-belo-horizonte.htm

É tudo bancado por você, cidadão honesto e trabalhador que não pode sair a noite de casa. 

E adianto, não é barato, pois a festa os eventos são grandes, duram dias, roupas, maquiagens, maquiadores, cabeleireiros, som, luzes, juízes, transporte, segurança, estadias, etc. Tudo bancado pela sistema penitenciário
 
Apresentação musical. Fonte da imagem
O pavilhão Feminino, possui mais dinâmica e atividades sociais, como teatros, palestras, apresentações artísticas de alunos universitários, visitas de ONGs e instituições religiosas, grupos sociais, cursos profissionalizantes, essas coisas.

Enfim, não tenho muito a acrescentar sobre a população carcerária feminina, uma porque não tive contato com elas, outra porque na unidade em que estava não é uma penitenciária feminina e tem apenas um pavilhão improvisado para guardar as infratoras maiores de idade. 

Ah sim, outra coisa. As presas grávidas ou que amamentam, são transferidas para o regime domiciliar ou são transferidas para uma penitenciária feminina que possui médicos especializados para acompanhá-las, como médico Obstetra, Pediatra, Ginecologista, e outros profissionais da saúde da mulher. Possuem fraldários e infraestrutura específica para abrigar crianças que ainda dependem da mãe para sobreviver.

Já ia me esquecendo de outro detalhe também, que estava revoltando muita gente nesta penitenciária. É que as presas têm permissão de trabalhar e fazer o serviço administrativo da cadeia. Isso estava gerando muita, como vou descrever, revolta nos agentes. Pois assim, as detentas estavam coletando informações pessoais dos agentes penitenciários e repassando informações a seus maridos e homens do tráfico a qual elas tinham contato. 

Espero ter contribuído de alguma forma para matar um pouco a curiosidade sobre as presidiárias, mas sinto que ficou faltando muita coisa. Se tiverem alguma curiosidade mais, me perguntem que vejo se consigo responder.



www.arquivos-virtuais.blogspot.com


 
   





 


   


10 comentários:

  1. "Conversando com algumas agentes femininas, elas me informaram alguns hábitos das presas tais como: Andar nuas ou só de calcinhas pelos corredores e celas, muita, mas muita putaria entre as presas, acontecendo sexo quase 24 horas por dia e de maneira "consentida"" caramba, sinistro!

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    1. Grande Scant Tales

      rsrssr

      Verdade! Mas não me surpreende. Se vc imaginar colocar as piores fankeiras e sapatões presas numa sala, já pode se imaginar no que vai dar.

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  2. Não tinha nem ideia!!! Parabéns pela iniciativa!

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  3. Uma vez entrei na penitenciária feminina de SP, acompanhado de um juiz corregedor (eu era um estagiário).
    Os pavilhões realmente eram limpos, mas as edificações eram cheias de vazamentos e mofo.
    Infinitamente melhor do que a ala masculina, mas ainda assim podres.
    Havia trabalho para todas, nada muito pesado. Também havia um orelhão, como mencionou, com uma fila permanente.
    Muitas "namoravam" com os presos do pavilhão masculino ao lado. Na realidade, apenas passavam o dia todo na grade da janela fazendo sinais com um lenço, prometendo que quando saíssem de lá iria visitar o cara.
    Quando eram soltas, realmente iam atrás do malandro. Quando era o malandro que saia primeiro, geralmente desaparecia, deixando a trouxa sozinha.
    Solidão, aliás, era um problema comum. Quando eram presas, geralmente por um crime praticado a pedido do marido (quase sempre tráfico), o cara largava a idiota sozinha. Ao contrário do presídio masculino, que recebe muitas visitas de mulheres, homens raramente apareciam (nem sei dizer se poderiam aparecer)
    Entre as presas havia também muita mulher estranha, com aspecto quase esquizofrênico. As presas por tráfico eram novas e normais, essas outras, presas por algum outro motivo, pareciam essas malucas que às vezes vemos morando nas ruas das grandes cidades.

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    1. Salve grande.

      Muito obrigado por enriquecer este texto com sua experiência. Muito legal mesmo.

      Quanto as visitas, realmente é do jeito que vc informou mesmo, ainda vou fazer uma postagem sobre o tema.

      Aqui, as presas conseguem permissão para irem fazer a visita íntima com os outros malandros que elas conhecem na prisão, são poucas as que conseguem e nem sei como é o processo para isso, mas acontece com certa regularidade.

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  4. Adoro esses seus relatos, é bom ter conhecimento dessas coisas, se não fosse por ter lido isso só iria saber as coisas que todos sabem sobre a superlotação nos presídios. Eu já imaginei que a parte feminina seria mais "organizada", em geral as mulheres são mais organizadas que os homens né. Eu fiquei imaginando esse presídio agora tipo OITNB, sempre alguém querendo se pegar.

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    1. Aristocrata

      Muito obrigado pelo feedback. Realmente, na média, as mulheres são bem mais organizadas que os homens.

      Para mim também foi muita surpresa frequentar uma penitenciária, não fazia a menor idéia de como era.

      abraços

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  5. Lendo este texto, fica uma dúvida. Será que ser ASP feminina é mais "fácil" que ASP masculino?
    Ou é a mesma rotina, as mesmas ameaças, recepção, etc?

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    1. Oi Amanda

      Bom, é difícil para mim responder essa pergunta, pois não tenho tanta experiência e conhecimento sobre o assunto, sem contar que eu possa colocar outras questões pessoais no meio.

      Porém, tentando responder da forma mais clara e imparcial que eu possa imaginar, acredito sim que o trabalho de Agente feminina é mais fácil que o masculino.

      Por que digo isso? Acredito que o grande perigo deste trabalho seja os sinistros (rebeliões, motins, atentados, etc), pois no mais, é um trabalho bem simples que não requer esforço físico intenso ou repetitivo, como nos outros empregos braçais que tem por aí. O serviço de ASP é operacional, é braçal, não se usa computadores, papeis ou canetas para exercer a profissão, salvo cargos altos ou adm.

      E sem dúvida alguma, o público masculino de criminosos são bem mais agressivos e perigosos que o feminino. Os piores bandidos são masculinos, não há dúvida quanto a isso. E os pavilhões masculinos estão cheios desse tipo de gente, não que o feminino não tenha, mas em comparação de crimes hediondos, nós homens lideramos com folga.

      Além disso, o risco de se contrair doenças nos pavilhões masculinos é bem mais alto, visto que são mais imundos e sujos.

      É isso o que penso!

      Abraços Amanda.

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